sábado, marzo 14, 2009

no muro

Por cima do muro vi a cor do céu. Estava azul dágua, cheio de nuvens brancas penteadas pelo vento, como meninas de dez anos correndo pela casa.

Friburgo, cheiro de mata. São as nuvens, malditas mesmas nuvens. Passaram-se anos, mas quem sabe haja outra de mim agora ao mesmo tempo, em Friburgo olhando o céu, por cima dos pinheiros da floresta. Uma pequena Eva olhando pro céu em 1993.
Dezesseis anos atrás.

Lembro que era tarde de segunda-feira.
A mata começava a virar só contorno, e a sombra das folhas buracos fundos, densos, azuis escuros.

Minha mãe me chamava pra jantar.

Era cedo, fazia sol. Mas era verão, noite clara.

Na segunda vez que me chamava, corria pra casa largando tudo no quintal.

Sem olhar para os buracos da mata.
Já sabia de pequena; não se olha para abismos.