Marisa conheceu Ricardo por acaso.
Não estivessem os dois sem troco em uma dia chuvoso e frio
ela nunca teria entrado naquele bar estando tão atrasada.
Cruzou a rua para trocar aquela nota de vinte que o ônibus não aceitaria.
Marisa, ela trabalhava a 40 minutos dali
ainda que volta e meia passasse por aquela rua
sempre estaria de carro.
Ricardo dormia por ali sempre,
era de costume desempregado.
Seu acaso era ele haver desperto mais cedo que de costume,
essa semana trabalhava,
e neste caso a coincidência era sua estranha normalidade
de se haver posto corpo vertical para fora do seu úmido leito na hora certa de ver a Marisa.
Seguramente foi o frio daquela tarde de primavera que os juntou.
Molhados, trêmulos naquele bar sujo e fétido a óleo de fritura.
Estranho era ser primavera, mas nunca pensaram bem nisso.
O jornal explicaria que o frio vinha do sul, uma corrente que duraria um par de semanas.
Sorte deles.
Quando se fossem as contradições de suas vidas,
o carro de Marisa voltaria a funcionar
e Ricardo nunca a alcançaria a pé.