martes, octubre 30, 2007

pontos de distância

Andreas, chamou.
Andreas.


Ele dormia e respirava pesado, como que em recusa a seu despertar.
Enquanto isso, as lágrimas de Cláudia escorreriam por suas bochechas desmanchando-se por fim no ombro dele.
Dentro de Andreas as gotas salgadas se transformariam em pontos de orvalho da alvorada por vir.

miércoles, octubre 24, 2007

Baby let me follow you down

Carolina ficava com vontade de fumar quando escutava Bob Dylan.
Fumaria um maço inteiro de malboros
para que seus pulmões ecoassem em perfeita sintonia
as notas sujas e estridentes da gaita.

Baby let me follow you downnn,
cantaria Carol bêbada pelos corredores da casa,
seus dedos tocariam as paredes
e deixariam um leve cinza impresso,
um registro de afago humano.

Angélica e Eugênio

Não chovesse tanto hoje,
Angélica perguntaria a Eugênio o que este lhe prometeu já fazia um mês.

Eugênio gostava de segredos pela manhã
para ver a Angélica desnuda fechar seus olhos e encher de matéria.

As amigas de Angélica diriam a ela que
enquanto insistisse em dormir, ele a traiaria
apenas elas não sabiam
que a felicidade existia somente dentro dela, de Angélica.

(a chuva lhe impedia de atravessar o túnel e por isso hoje sonhava com memórias)

martes, octubre 23, 2007

Matheus

Matheus passou sua vida toda explicando que tinha um H.
H entre seu T e U, pois era necessário avisar aos idiotas que lhe teimavam.
Matilde não tinha mais consoantes que as necessárias,
preferia sempre dizer -
escreve como se fala,
se fala como se escreve.

Matheus e Matilde nunca se entenderiam,
mais que gramático,
o problema deles era de construção mesmo.

domingo, octubre 21, 2007

memória de Marisa

1 ano mais tarde Marisa se poria a pensar
que havia sido aquele romance.
Estava grávida de 3 meses de Afonso,
um homem que a amaria do primeiro momento a sua separação.
Parecia ser um excelente modelo pra um pai
assim pensava metodicamente Marisa.

Na noite de sexta
olhava para a careca de Afonso
e lembrava suas noites de sexo ardente na cama de Ricardo.
Lhe invadiria a necessidade de forjar um acidente
para fingir-se penetrar por vidros.

Para relembrar seus sentidos
do ser somente caco e flúidos.

vivendo o fim

Marisa conheceu Ricardo por acaso.
Não estivessem os dois sem troco em uma dia chuvoso e frio
ela nunca teria entrado naquele bar estando tão atrasada.
Cruzou a rua para trocar aquela nota de vinte que o ônibus não aceitaria.

Marisa, ela trabalhava a 40 minutos dali
ainda que volta e meia passasse por aquela rua
sempre estaria de carro.
Ricardo dormia por ali sempre,
era de costume desempregado.
Seu acaso era ele haver desperto mais cedo que de costume,
essa semana trabalhava,
e neste caso a coincidência era sua estranha normalidade
de se haver posto corpo vertical para fora do seu úmido leito na hora certa de ver a Marisa.

Seguramente foi o frio daquela tarde de primavera que os juntou.
Molhados, trêmulos naquele bar sujo e fétido a óleo de fritura.

Estranho era ser primavera, mas nunca pensaram bem nisso.
O jornal explicaria que o frio vinha do sul, uma corrente que duraria um par de semanas.
Sorte deles.

Quando se fossem as contradições de suas vidas,
o carro de Marisa voltaria a funcionar
e Ricardo nunca a alcançaria a pé.

miércoles, octubre 17, 2007

não é justo

você descompassou nossos silêncios e palavras
diz que o descontrole fosse meu
antes de tudo já era seu
quando seu medo já não te permitia
deixar-me ser sua.

Não me arrependeria de nada
só você não tivesse me feito desacreditar
nessa imagem linda que fiz dentro de mim
pareceria menos ilusão todas minhas memórias,
minhas lágrimas não teriam de secar
pois já não mais existiriam.

Assim como nós.
Um beijo de saudade.

domingo, octubre 14, 2007

ciência

Maria Clara no segundo grau era a pior aluna de Física.
Não entendia como que forças podiam ser medidas por fórmulas.

Dez anos mais tarde,
após formar-se em decoração de interiores
viu que o que impossibilitava a sua felicidade era justamente isso:
nunca haver estudado física.
Era tudo culpa de sua incapacidade de prever,
ao invés disso
insistia, até os dias de hoje,
na tentativa/erro.

sábado, octubre 13, 2007

somente eu

Os acordes pequenos
inteiram de repente por mim
que mesmissimamente assim
com todas as possibilidades deste momento
que mesmo se pudesse estar em outro lugar numa multidão
não me trocaria agora por nada
pois que mais quero é estar deitada
totalmente repousada
sobre mim.

Os cientistas lhe perguntariam
que nova espécie de peixe bolha
que surgia em suas profundezas.

viernes, octubre 12, 2007

intemperia

Odeio a saudade que me lateja o peito
que me burbulha a voz
e descompassa meu coração a cada palpitar da primeira sílaba do teu nome.

Tudo isso porque te encontraram pela esquina
diziam que tomava uma cerveja com uma amiga
e eu bem sábia dos teus eufemismos
senti como uma dor no peito
a sua nova amizade florida.

A minha saudade cega qualquer tentativa de sentido
pois desperta no instinto
a necessidade como vontade.
Minha saudade me parece mais um artificio masoquista,
Uma dor sem necessidade
e cujos precedentes são a falta
o desejo
e o cheiro.
O seu cheiro.
A saudade sua a irracionalidade
de uma pele carente
de uma vontade
insisto em repitir
latente
ardente
quente
faminta
insana.

A saudade é o mais animal do ser humano.
Contra a racionalidade do orgulho.

martes, octubre 09, 2007

escamas de peixe

Acordou com o sol da tarde
Seus olhos mal abriam,
pois a água impossibilitava seu corpo
que não havia ainda de todo se transformado.

Entre a gordura e as escamas de peixe
residiriam bolhas de ar
inertes
temporariamente
sobre sua superfície.