martes, julio 31, 2012

my own private phantom

Vendo-se no espelho à noite, e conta até três para mudar o olhar. Vai olhando como se fosse uma gravura 3d. Pupilas dilatam, sem definição. E parece que as formas vão se dividindo em unidades geométricas, olhos, nariz, rosto e testa. Era uma coisa que fazia criancinha, quando não conseguia dormir, e meus pais já me trancavam no quarto, para poder assistir ao Jornal Nacional, ou fumar maconha e transar. Não sei a relação exata, mas descobri agora como se criam fantasmas. Um fantasma é o espaço entre a existência e a ausência total. E assim, tentando te apagar da minha pequena história, parece que existe um buraco em uma parte do todo. Talvez você nunca existiu, apesar de algumas pistas. Um reflexo 3d. Ficou um sulco na cama, a marca do seu rosto no meu colchão. Às vezes parece até que a minha mão encaixa direitinho, com a forma do buraco.

sábado, julio 21, 2012

uma cidade

Era de costas pro rio. Lembro bem do dia em que cheguei por primeira vez em Retiro. O ar seco e frio, cruzando os trilhos para logo em seguida entrar num metro de outro nome, com muitas consoantes para pouca vogal. Depois chegar e escutar sons estranhos, saber que estava muito próxima de casa, mas me sentir mais longe ainda de tudo. Era o novo, desconhecido. Os ônibus que assobiavam como se chamassem a moça bonita. E se minha família nórdica tivesse emigrado para cá? Seria escolher entre uma cidade rodeada de praias azuis, e outra, que cresceu de costas pra um rio marrom. Uma questão de espírito.

martes, julio 10, 2012

noite branca

Natchenka esperou Teodor por muito tempo. Começou sentindo seus dedos do pé, lentamente congelando, virando pedra sem sangue. Depois sua bota começava a cobrir-se de neve rala, tapando os pés. E logo, quando começou a sentir o frio russo subir pelas suas pernas, invadiu-lhe o choro. Ele não viria? Vou morrer caso ele não venha? Ficarei prostrada como uma árvore sem folhas?