martes, marzo 27, 2007

nos primeiros 100

O copo ficou marcado pelo último selo.
Júlia bebeu o último gole dágua afoitamente.
Não se iluda, não se trata de despedida. Último aqui como exagero de sede, falta, desejo.

Foi até a linha onde lhe esperavam os demais.
Às tardes fazia um sol indireto
e o campo parecia uma memória saudosa de sua infância que ainda vivia
Várias vezes tinha esse pressentimento
Não de deja vu, lhe acometia a certeza de que se lembraria da simplicidade do momento.
Coisas sem importância tomariam o lugar da morte de parentes e do dia que viu seu primeiro amor terminar.
Ficaria na memória o vôo da embalagem do chiclete, leve, efêmero.
Dariam o apito de largada
e ela correria mais uma vez.

lunes, marzo 19, 2007

...

Maria chora triste na bancada de sua janela.
Nela repousam as flores de seu último amor, Pedro.
Maria gosta de dizer último, dá uma tragicidade, lhe dá autoridade para sofrer e afirmar
"Era o amor da minha vida."

Pedro já o via de outra maneira.
Ainda que gostasse do amor sofrido de Maria, em algum momento lhe encheu a necessidade de cuidar e se deu conta de que
na verdade em Maria
não havia o que curar
sofrer para ela era amar,
Gritava Maria na bancada.

Chorou alto mais uma vez.
A manhã ressoava suas lágrimas.
Esbravejou tirar-se a vida, de nada mais fazia sentido, ora.

(o pulso esquerdo de Maria esbarra no pote de rosas murchas)
(em queda livre do sétimo andar, as flores podres acertam a cabeça de Pedro
que de maneira certeira
beija o frio cimento da calçada de Maria.)

Papel branco

Na minha idade, minha avó já havia dado luz ao meu pai e tinha uma segunda criança em seu ainda jovem ventre.

Ainda bem que os tempos são outros.
Será? Acho que sim.
(de certa maneiro arrisco admitir que o gosto por crianças tem aumentado...é o instinto maternal?)

...
Rabisca no meu que eu rabisco no seu.

domingo, marzo 18, 2007

cinema

Ela ia para o cinema naquela sessão das 4. Eram sempre ela e mais dois casais, quem sabe um casal e meio, quiçá um dos avôs morreu e vinha a nova viúva compadecer-se do novo trauma com ajuda de algum entretenimento, um sorriso.
Amava aquele filme por uma pequena parte. Tratava-se de um filme como qualquer outro, mocinho, mocinha, bandido, conflito, resolução. Mas no meio, em algum desses intermedios que nada tinham a acrescentar, havia uma música que lembrava cheiros e imagens de alguma infância que não foi a dela.
Pensava em campos floridos e vestidos brancos, crianças correndo e árvores cheias de maçã.
A parte sempre terminava e era necessário comprar outro ingresso no dia seguinte.

agenda

agora meu cotidiano terá ordem

ou pelo menos uma forma mais adulta de lidar com a minha ansiedade

para amanhã;

- acordar
- escrever a minha monografia
- fazer um filme
- jantar e dormir.

lunes, marzo 12, 2007

mini Deus

Na intenção de escrever um texto sobre escrever (aka metatexto), me lembrei, por livre associação forçada, de meus "tempos de escola" (as aspas para tirar qualquer suspeita de saudosismo desse infame periodo de minha existencia.)

Enfim, lembrei que odiava as aulas de História.
Acho que na realidade nunca tive professores que o valhessem. Tia Marilia, uma senhora tijucana, torcedora do Botafogo, acho, animada, com espirito jovial apesar de seus 50 e algo anos, Seu Bruno, um mineiro doce de boa caligrafia, gago, inteligente, sem qualquer noção de pedagogia e Marcos, um possível psicopata, filho de um ex carteiro, quem sabe um ex militante amargurado, triste, com rancor de todos nós, crianças mimadas e branquelas, descendentes germânicos moradores da zona sul.

Para não me prolongar demais, me concentro na primeira, Tia Marilia. Logo percebi um dos meus primeiros traumas, rapidamente sentido pelos meus naépoca colegas de classe.

Tia Marília. Sempre no Brasil Império, não tinha outra maneira de conter o vozerio dos pequenos burguesinhos (e de dar toda matéria) que não ordenando que cada um lesse em voz alta um parágrafo do incrivelmente chato e pesado livro de História.
Um silêncio coletivo invadia a sala, pois este era mais um desses momentos de provação entre os adolescentes.
Escutar a voz do outro nua na sala silenciosa.

Eu, pessoalmente, morria de medo desses momentos(daí minha aversão às artes cênicas e o palco). Além do costume de gaguejar e errar as pausas de respiração, me invadia uma deficiência ainda maior, originária de outros tempos ou apenas de um desses sistemas de autoboicote que geramos.

Me faltava a voz, não o ar. Ecoa uma frase fraca pela minha garganta que parece dar voltas em si mesma e voltar rindo de mim mesma para minha própria boca.

Quando as suas entranhas são o seu inimigo não há nada mais a fazer
que abafar os berros de uma multidão.

PS: eu ia escrever sobre escrever, mas traumas furam fila e entram na frente sem senha.

viernes, marzo 09, 2007

o corpo de teresa

Lhe acometia a solidão e sozinha embreagada
tinha curiosidade, porque não
de sentir seu corpo vazio
lhe dava um pouco de medo trair-se, explica-se
(sonhava com piscinas e nudez e tudo isso lhe desesperava ainda mais)
gagueja que quando um comportamento não é seu se sente imitando a alguma outra

ainda assim tentou
(lembrou-se que "ainda" era sua palavra favorita)
entregou-se à possibilidade que viu
longe, se fechava e gemia calada

com as luzes apagadas
confundia os traços de seus amantes

Sorriu com os olhos apertados
para então confirmar dentro de si a secura de um amor verdadeiro.

lunes, marzo 05, 2007

pequenas premissas

simples
açúcar
amanhã
uma passagem
dois minutos
minutinhos
diminutivos

que lindo seria.
O tempo afável.