viernes, junio 26, 2009

sons

Insisto nisso, mas a música certa conserta rachaduras,
constroi cicatrizes.

miércoles, junio 24, 2009

vento

O vento bate forte portas e janelas.
Faz gemer fechaduras, trincas e uma dor de cotovelo.
O Coração, por fim, se acalma.

miércoles, junio 17, 2009

cliches

Me dava uma tranquilidade. Um pedaço de terra firme, algo conhecido, próximo, amor. Uma lembrança de amor. Recuerdo. Palavras que minha língua esqueceu.

Existia uma calmaria absoluta, era estranho, vinha de um desconhecido. Nos conheciamos há apenas 3 dias.
Porque na verdade eu nem pensava, era o meu corpo que dizia que não precisava de defesas.
Que isso era coisa sem sentido.

Pois dessa vez nasci mais velha que ele.
Nos desencontramos, mas também quem sabe sempre será assim. Não lembro, não lembro.
Se eu lembrasse quem sabe teria ligado mais cedo, vindo mais tarde, dormido menos.

Por outro lado, aquilo que não esquecemos de nós dois, vira um clichê.
Enquanto o mundo evapora, nos burlamos das nossas próprias repetições históricas.

viernes, junio 12, 2009

dissecar

Angela casou-se com Roberto. De manhã tocava a sua mão e sentia um leve frio nos dedos, sentia a sua pele que se arrugava lentamente, sob aqueles vinte poucos anos. Sentia a idade que vinha.
Vestiu a meia calça por cima de sua coxa. Horas depois embarcavam para uma lua de mel nunca cumprida. O corpo de Angela esteve no mar alguns dias até que a reencontrassem. Daí o processo era ainda mais inesperado; agora estava ela como outros corpos, sendo dividida, seccionada e analisada. Medicos e cientistas de outros paises comparavam os seus dedos aos de um alemão gordo. Suas digitais mescladas no oceano atlântico.

viernes, junio 05, 2009

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Perguntou pra Joyce como que ele escrevia.
Se era um ditado do inconsciente.

o mundo

Um avião partiu do Rio de Janeiro num dia que poderia ter sido de minha partida.
Saiu e sobrevoou uma parte do continente até desaparecer na camada atmosférica.
Como um dinossauro, desapareceu.
Enquanto isso, a população não entende a gripe suína, e outro dia mesmo um ator de 74 anos, rico e famoso, se suicidou.
Que tempos são esses? Quem sobrevive a isso, ou como viver isso. A realidade é uma construção diária, e parece que a maioria das pessoas, inclusive eu, se esquecem disso.
Esquecer e deixar-se levar, sem cabeça, sem coração, corpo em movimento.
A sensação de vértigo é o sintoma dos países que estão doentes, velhos, cínicos. Como um velho de 74 anos que já não vê mais beleza na vida, nem em suas memórias.

De alguma forma, por mais cruel que possa soar,
parece que todo este estado de coisas tem a ver com o desaparecimento de um avião.

(Como seguir inerte, igual, falando das mesmas besteiras? Por mais ingenuo que possa soar, mas tomo as palavras de Mafalda. Como mudar o mundo?)