Um avião partiu do Rio de Janeiro num dia que poderia ter sido de minha partida.
Saiu e sobrevoou uma parte do continente até desaparecer na camada atmosférica.
Como um dinossauro, desapareceu.
Enquanto isso, a população não entende a gripe suína, e outro dia mesmo um ator de 74 anos, rico e famoso, se suicidou.
Que tempos são esses? Quem sobrevive a isso, ou como viver isso. A realidade é uma construção diária, e parece que a maioria das pessoas, inclusive eu, se esquecem disso.
Esquecer e deixar-se levar, sem cabeça, sem coração, corpo em movimento.
A sensação de vértigo é o sintoma dos países que estão doentes, velhos, cínicos. Como um velho de 74 anos que já não vê mais beleza na vida, nem em suas memórias.
De alguma forma, por mais cruel que possa soar,
parece que todo este estado de coisas tem a ver com o desaparecimento de um avião.
(Como seguir inerte, igual, falando das mesmas besteiras? Por mais ingenuo que possa soar, mas tomo as palavras de Mafalda. Como mudar o mundo?)