Tinha fitas e cds de instantaneos digitais, da epoca em que estiveram juntos, lembra Ana, vagamente.
E de repente, por um sopro de saudade, começa a revoltear armarios, gavetas, buscando rastros e marcas, beijos e sorrisos. Ela brasileira, ele argentino, viviam em cidades distintas, de quando criavam um mundo a parte, virtual. De vez em quando ela ia pra la, e era sempre melhor que a vez anterior.
No meio tempo sempre se escreviam, se telefonavam. Ela lhe mandava fotos que contavam historias. Ele sempre dizia que um dia, tudo isso iria pro MoMa, em NyC.
A ultima correspondencia foi ela dizendo Adeus. Logo se corregiu. Disse que não gostava de dizer adeus, que era sempre melhor poder esperar por uma próxima vez. Colocou ainda duas fotos. A primeira uma arvore sozinha, e logo a segunda, a mesma arvore, reenquadrada de forma que se via uma segunda arvore ao seu lado, ainda que distante.
Mas terminava aí. Na verdade era um email casual, não era uma decisão certa. Foi só o primeiro lampejo.
Em meio a pilhas, Ana procurava fotos e fitas, o tempo cristalizado em 0's e 1's.
Petrificada de ter perdido os arquivos, Ana sentia um alivio. Não teria mais o medo de ver-se de novo com 20 anos. Os olhos brilhando de esperança, cheios de ingenuidade, de amor criança. Não suportaria saber haver perdido.